Dr. Drauzio Varella
A deterioração da paisagem urbana é lida como ausência dos
poderes públicos, portanto enfraquece os controles impostos pela comunidade,
aumenta a insegurança coletiva e convida à prática de crimes.
Essa tese, defendida pela primeira vez em 1982 pelos
americanos James Wilson e George Kelling, recebeu o nome de “teoria das janelas
quebradas”.
Segundo ela, a presença de lixo nas ruas e de grafite sujo
nas paredes provoca mais desordem, induz ao vandalismo e aos pequenos crimes.
Com base nessas ideias, a cidade de Nova York iniciou, nos anos 1990, uma
campanha para remover os grafites do metrô, que resultou numa diminuição dos
crimes realizados em suas dependências.
Medidas semelhantes foram adotadas em diversas cidades dos
Estados Unidos, Inglaterra, Holanda, Indonésia e África do Sul.
Um grupo de holandeses da Universidade de Groningen publicou
um estudo na revista “Science”, que esclarece os pontos obscuros da teoria.
O primeiro experimento foi conduzido num estacionamento para
bicicletas, numa área de compras da cidade de Groningen. Para simular ordem, os
pesquisadores limparam a área e colocaram um aviso bem visível de que era
proibido grafitar. Para a desordem, grafitaram as paredes da mesma área, apesar
do aviso para não fazê-lo. A grafitagem constava apenas de rabiscos mal feitos,
para evitar confusão com arte. Em ambas as situações, penduraram um panfleto
inútil nos guidões das bicicletas, de modo que precisasse ser retirado pelo
ciclista antes de partir. Não havia lixeiras no local. Na situação ordeira, sem
grafite, 77% dos ciclistas levaram o panfleto embora. Na presença do grafite,
apenas 31% o fizeram; os demais o jogaram no chão.
Uma segunda experiência foi realizada no estacionamento de
um supermercado. No portão em que as pessoas normalmente entravam para buscar o
carro, foi colocada uma cerca com uma abertura de 50 cm. Nela, foi afixado um
aviso para andar 200 metros a fim de alcançar um portão alternativo e outro que
proibia amarrar bicicletas na cerca.
Na condição de ordem, quatro bicicletas foram estacionadas a
um metro da cerca; na de desordem, as quatro foram acorrentadas a ela. Na
ordem, 27% das pessoas entraram pelo portão proibido; na desordem, 82%.
No terceiro estudo, também conduzido no estacionamento de um
supermercado, foi colocado um aviso para devolver o carrinho de compras num
determinado lugar, depois de descarregá-lo no porta malas. Ao mesmo tempo,
foram pendurados os panfletos inúteis na parte externa do para brisa.
Para simular ordem, nenhum carrinho foi deixado à vista; na
situação de desordem, quatro deles ficaram expostos. Quando havia ordem, 30%
dos motoristas atiraram o panfleto no chão, atitude tomada por 58% dos que
encontraram os carrinhos abandonados.
O quarto estudo se baseou numa lei holandesa que proíbe fogos de artifício nas semanas que antecedem o Ano Novo, contravenção punida com multa de 60 euros.
O cenário foi um abrigo de bicicletas junto a uma estação de
trens. O mesmo panfleto dos experimentos anteriores foi pendurado nos guidões.
A situação de desordem foi representada pelo espocar distante dos fogos no
momento em que o ciclista chegava para retirar a bicicleta; a de ordem, pelo
silêncio. No silêncio, 52% jogaram os panfletos na rua; ao ouvir os fogos
proibidos o número aumentou para 80%.
Nos estudos cinco e seis, foi testada a tentação para
roubar. Numa caixa de correio da rua, foi colocado um envelope parcialmente
preso à boca da caixa (como se tivesse deixado de cair para dentro dela), com
uma nota de 5 euros em seu interior, bem visível para os transeuntes.
Na situação ordeira, a caixa estava sem grafite e sem lixo
em volta. Numa das condições de desordem estava grafitada; na outra, sem
grafite, mas com lixo ao redor.
Dos transeuntes que passaram diante da caixa sem grafite nem
lixo, 13% roubaram o dinheiro. Esse número aumentou para 27% quando havia
grafite e para 25%, quando havia apenas lixo ao redor.
A mensagem é clara: desordem e sujeira nas ruas mais do que
duplicam o número de pessoas que joga lixo na sarjeta ou rouba.
Leia também - parte 1 - acesse:
http://observatoriosocialjequie.blogspot.com.br/2015_11_01_archive.html
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